quinta-feira, 4 de abril de 2013

Banners










Vamos supor que um amigo seu tenha inventado um produto revolucionário, digamos: uma máquina de desentortar bananas. Ele acha que vai vender às pencas e decide promover seu produto. E, sendo um indivíduo antenado com a modernidade, pretende usar como principal veículo de divulgação a Internet. Que tipo de propaganda você sugeriria a ele?



Talvez eu me engane, mas acredito que a maioria dos leitores viesse a optar pelo uso de “banners”. E não apenas devido ao fato de seu formato, usualmente alongado se harmonizar perfeitamente com o de uma banana retificada.



Vamos ponderar um pouco sobre o assunto.



Primeiro, para quem não está ligando o nome ao sujeito, nos ponhamos de acordo sobre o que, afinal, é um “banner”. Originalmente, em inglês, o termo significa “bandeira”, “estandarte”. Depois, devido a seu largo emprego na Internet, passou a significar uma forma de propaganda utilizada na rede. Portanto, “banners” são estes anúncios que infestam as páginas de alguns sítios: pequenos retângulos ou quadrados contendo uma mensagem publicitária e com a vantagem funcionar também como atalho (“link”): um clique sobre ele leva diretamente ao sítio do anunciante.



A facilidade com que eles são criados e inseridos nas páginas, assim como a simplicidade com que são trocados, podendo mudar a cada nova visita, fizeram com que proliferassem como praga. A ponto de serem criados complementos nas versões mais recentes dos navegadores mais populares especificamente para evitar sua exibição (não somente porque alguns internautas se sentem incomodados por eles mas, principalmente, pelo “consumo de banda”, ou seja, aumento dos dados transferidos que implicam). Seja como for, tornaram-se tão comuns que seu tamanho foi padronizado. Os tamanhos, com suas dimensões expressas em pixels, podem ser vistos no tópico correspondente a “banners” da edição da Wikipedia em inglês. O tamanho mais comum é uma faixa horizontal de 468 x 60 pixels, mas há também formatos maiores e menores, com a maior dimensão na vertical e até mesmo quadrados.



Mas vamos ao que interessa: será que anunciando exclusivamente em banners seu amigo esgotaria o estoque de suas máquinas de desentortar bananas? Seria essa uma forma eficiente de divulgação?



Vamos ver. Você costuma clicar em banners? Eu não. E quando o faço, geralmente é por engano: queria clicar em outra coisa e acabei “acertando” no “banner”. Até recentemente eu pensava que isto se devia a alguma deficiência minha, talvez vista cansada ou sabe-se lá o que. Mas descobri que estes cliques acidentais são tão comuns que receberam até um nome: “fat fingers” (dedos gordos). Pois bem: a GoldSpot Media, uma plataforma de gerenciamento de publicidade móvel e “online”, executou uma pesquisa para saber quantos dos cliques em banners eram feitos involuntariamente. Como souberam que um clique foi voluntário ou involuntário? Bem, eles estabeleceram um critério: se a página aberta pelo clique fosse fechada menos de dois segundos depois de aberta, então o clique era considerado acidental – o que faz todo o sentido. E analisaram milhões de cliques efetuados por usuários em banners de sua plataforma. Conclusão? Metade dos cliques foram acidentais (na verdade eles ainda fizeram distinção entre cliques executados em “banners” estáticos que nos animados, concluindo que a probabilidade de clicar por engano nos primeiros é três vezes maior). Um resumo da pesquisa pode ser encontrado neste artigo do Business Insider.



Mas quantos “banners” existem por aí sendo exibidos nas páginas dos incautos? E quantos são clicados?



Segundo estatísticas da ComScore divulgadas pelo Digiday, somente em 2012 foram apresentados 5,3 trilhões de “banners” apenas aos usuários americanos, um trilhão a mais que em 2009. Note que eu escrevi trilhões. E só nos EUA. Isto significa que a cada internauta americano foram expostos 1.707 “banners” por mês.



É “banner” que não acaba mais…



Mas teriam sido eles eficientes? Ao menos teriam sido vistos? Bem, para isto foi conduzida uma experiência que acompanhava o olhar do internauta enquanto examinava a página exibida no vídeo, marcando os pontos mais visados. O resultado é exibido na figura 1, obtida no excelente artigo “Banner Blindness: Old and New Findings” do Nielsen Norman Group (o artigo, que recomendo consultar, exibe também um vídeo que mostra o ponto de interesse se deslocando na tela à medida que o internauta a percorre com o olhar).



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Figura 1: Olhar do usuário (Foto: Reprodução)



A figura 1 mostra os pontos de três diferentes páginas da Internet onde os usuários fixaram o olhar, classificados em ordem decrescente do tempo em que o olhar permaneceu neles. A ordem é vermelho (mais tempo), amarelo (tempo médio), azul (pouco tempo) e cinza (praticamente nenhum tempo). Depois de efetuados os testes, foram marcados em verde os locais onde havia “banners”.



Um exame da figura mostra que praticamente não houve qualquer fixação do olhar nos referidos “banners”. Na verdade a comScore chega a afirmar que 31% dos “banners” jamais são sequer vistos.



E os que são vistos, recebem cliques? Bem, segundo estatística da Smart Insights, a média é de 0,1%. Ou seja: de cada mil “banners” exibidos, um recebe um clique. E, pior: o formato mais popular, de 468 px x 90 px, recebe apenas 0,04%, ou seja, um clique em cada 2.500 exibições (e sempre é bom lembrar que metade deles é por engano…)



Mas será que você conhece alguém que clique habitualmente em “banners”? Provavelmente não. Nem eu. E a razão disto é simples: ainda segundo a ComScore, apenas 8% dos internautas são responsáveis por 85% dos cliques em “banners”. Honestamente, eu não sei o que isto indica sobre a personalidade destes 8%, mas presumo que não sejam grandes compradores (e nem que venham a constituir um padrão de normalidade…)



Mas e quem vê os “banners”, por acaso confia neles? Ou seja: a propaganda efetuada através deles tem credibilidade? Bem, ainda segundo estatísticas do eMarket citada pelo Digiday, “banners” despertam confiança em apenas 15% dos usuários. Aproximadamente a metade dos que confiam nos anúncios exibidos na TV.



Mas de tudo o que eu andei lendo sobre o assunto o artigo que mais me chamou atenção foi o do “The Atlantic Wire”, que compara probabilidades da ocorrência de determinados eventos com a de um usuário clicar em um “banner”. Por exemplo: a probabilidade de ganhar o prêmio de doze milhões de dólares da loteria “Mega Millions”, muito popular nos EUA, é 31 vezes maior do que a de clicar em um “banner”. A de escalar o Evereste é 279 vezes maior.



Porém o mais assombroso é que, segundo o “The Atlantic Wire”, a probabilidade de você clicar em um “banner” é 475 vezes menor que escapar vivo de um desastre de avião.



Eu não sei não, mas aqui entre nós, me parece que anunciar através de “banners” não é a forma mais eficiente de bater recordes de vendas. Acho que as máquinas de desentortar bananas do seu amigo vão encalhar…



B.Piropo




Até o próximo Melhor do Planeta

Fonte: http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2013/04/banners.html

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