O final dos anos setenta do século passado e o início da década seguinte foi marcado pelo aparecimento dos computadores pessoas. Primeiro as máquinas “de oito bits” e, a partir de 1981, os micros da linha PC.
No início eles passaram quase desapercebidos. Depois, na segunda metade dos anos oitenta, começaram a invadir nossa vida, primeiro nos escritórios, depois em nossas casas e, agora, até nos nossos bolsos.
Coluna do B. Piropo: a mulher e a máquina
Para os padrões de hoje, as velhas máquinas de oito bits, com suas severas limitações de memória, armazenamento de dados em disquetes e processamento lento, pareciam quase toscas. Mas não importa: para seus usuários, eram um prodígio da tecnologia (e, na verdade, considerando a época eram mesmo) e, sobretudo, suas companheiras nas longas horas que passavam diante delas, seja trabalhando, seja se entretendo com jogos.
Mas o tempo passou, vieram máquinas mais modernas, surgiram os consoles cujos jogos fazem com que os daquela época pioneira pareçam coisa de criança (e, na verdade, eram, embora os adultos tivessem se apropriado deles) e hoje ninguém mais lembra das velhas máquinas de oito bits. Quem lembra do Apple II? E do TRSX 80? Do PET? Ou do Sinclair? E do MSX?
Ôpa! Devagar! Do MSX ainda tem muita gente que lembra. E não apenas lembra: usa. E mais que usa: cultiva!
Para começar, MSX não era uma marca, era um padrão. Um padrão criado pela Microsoft ainda na era das máquinas de oito bits para facilitar sua (dela, MS) vida.
Explico: naqueles dias as máquinas eram fabricadas por empresas independentes, cada uma com seu projeto, sua arquitetura e seu sistema operacional. Programa que rodava em uma nem sempre (na verdade quase nunca) rodava em outra. Periféricos, então, nem pensar.
E o negócio da MS era, justamente, desenvolver programas. E tinha um trabalho do cão para adaptar cada programa que desenvolvia aos diferentes padrões de máquinas existentes…
Ora, então por que não criar, ela mesma, uma arquitetura padrão e desenvolver um sistema operacional que nela rodasse para distribuir gratuitamente às empresas que se dispusessem a fabricar máquinas aderentes ao padrão? Quem aceitasse, ganharia de mão beijada todo o projeto básico de seu computador – que poderia ser modificado para oferecer melhorias adicionais, desde que não fugisse ao padrão. E teria que submeter o projeto final à MS para receber a homologação, ou seja, a garantia que um programa ou periférico criado para rodar em uma máquina homologada rodasse em todas as outras.
Com isso, ganhariam todos. Os fabricantes, porque receberiam da MS um projeto de alta qualidade e garantia de funcionamento a custo zero. Os usuários que, entre outras vantagens, caso a fabricante de sua máquina simplesmente deixasse de fabricá-la (fenômeno relativamente comum na época e o grande pesadelo dos usuários) poderiam simplesmente comprar outra aderente ao padrão sem perder seus programas e sistemas. E a MS, que teria trabalho uma vez só: para desenvolver o padrão. Daí em diante, tudo o que viesse a desenvolver para ele rodaria em todas as máquinas dos diferentes fabricantes.
Jamais alguém havia feito algo parecido. Era, portanto, uma experiência. O que levou a Microsoft a batizar o padrão de MicroSoft eXperimental. MSX. Que foi patenteado nos EUA em 20 de junho de 1983, uma semana antes do lançamento no Japão do primeiro modelo, fabricado pela Yamaha.
A pátria do MSX foi o Japão porque o inspirador da ideia foi um diligente empresário japonês, Kazuhiko “Kay” Nishi, vice-presidente da MS naquele país. Aí está ele, na Figura 1, ao lado de um jovem que hoje está aposentado e se dedica apenas a administrar sua Fundação Bill & Melinda Gates.
O Brasil fabricou dois modelos: o Hotbit da Sharp e o Expert, da Gradiente. Meu primeiro computador foi um MSX Expert.
Eu o usava para tudo. Ele permitia usar uma TV a cores ou um monitor monocromático como dispositivo de saída e eu usava ambos: o monitor para trabalho, a TV para jogos. Oferecia poucos periféricos, mas entre eles havia uma impressora, indispensável para fins de trabalho. E esta brava maquineta foi minha companheira inseparável até 1987, quando comprei meu primeiro PC. Guardo dela as melhores lembranças. Mesmo porque foi ela, com seus mistérios que eu me obrigava a decifrar e suas manhas que eu me dedicava a domar, que despertou meu interesse pela informática. Sem aquele velho MSX não haveria o colunista B. Piropo, haveria apenas o velho e insosso engenheiro Benito.
Meu velho MSX foi doado a um jovem adolescente, que o usou por um bom tempo e depois o passou adiante e dele não tenho mais notícias, só saudades.
Mas há por aí um bando de abnegados mais espertos que eu que não somente conservaram suas máquinas mas as aprimoraram e até hoje desfrutam do prazer que elas propiciam congregados no MSX Rio, ou mais propriamente no “Grupo de Usuários do MSX do Rio de Janeiro”.
Aqui estão eles, na Figura 3, em plena atividade na mais recente reunião do Grupo (aquele senhor encanecido que aparece ao fundo é um penetra, porém simpatizante).
O Grupo é pequeno, mas valente. São cerca de 30 membros efetivos e mais alguns amigos. E, ao contrário do que costuma acontecer, o Grupo nasceu de uma reunião e não ao contrário.
Segundo me disse Ricardo Jurczyk Pinheiro, este guapo mancebo que aparece na Figura 4, lá pela metade da última década do milênio passado (podia ser do século, mas “milênio” dá uma conotação mais vetusta) houve, em Brasília, uma reunião de usuários de computadores antigos. Reunião esta que ensejou uma troca de mensagens entre ele e o não menos guapo Giovanni dos Reis Nunes (de quem este incompetente repórter não tirou foto no evento, mas que lá estava presente), que compartilhavam a mesma devoção pelo MSX. E que, a páginas tantas, gerou a óbvia pergunta: ora, então por que não juntar os demais membros da tribo em uma reunião para discutirmos nosso interesse comum e intercambiar ideias?
E foi assim que a primeira MSX Rio surgiu em 1996.
De lá para cá o grupo consolidou-se, as reuniões passaram a ser regulares – no início uma a cada ano, depois de uma a três por ano (no último final de semana ocorreu a segunda reunião deste ano e ainda se prevê uma terceira), e sempre bem concorrida. A maioria dos participantes do Grupo comparece e alguns entusiastas chegam a se deslocar de outros estados.
E o que fazem eles nestas reuniões? Afinal, o último lançamento de qualquer coisa relativa ao MSX ocorreu há mais de uma década e, do ponto de vista do mercado, a arquitetura pode ser considerada extinta…
Bem, antes de tudo, confraternizam. E, acreditem, é uma confraternização bonita de se ver. Uma grande reunião de amigos compartilhando um interesse comum.
Depois, exibem suas máquinas. Velhas, mas audazes. Modelos antigos, outros nem tão antigos, algumas modernizadas e conectadas a periféricos que sequer existiam na época em que foram fabricadas. Vejam alguns exemplos na Figura 5.
E, finalmente, carregam joguinhos em suas máquinas antigas e se divertem com eles.
Mas como eles conseguem manter estas máquinas em funcionamento, considerando-se que algumas delas têm mais de duas décadas de uso? Bem, é que alguns membros do grupo não apenas são aficionados do MSX como também sabem de cor e salteado não somente o que há dentro dessas máquinas como também o que elas necessitam para se adaptarem a padrões que sequer existiam quando foram fabricadas. E não somente ajudam uns aos outros fazendo manutenção – por vezes profissionalmente, que ninguém é de ferro – como também fabricam adaptadores para periféricos modernos. Veja, na Figura 6 alguns destes, que permitem conectar ao velho MSX mouses. Monitores e outros tantos modernos periféricos, fabricação exclusiva de Mestre Alexandre Souza, meu velho amigo apesar da pouca idade.
Enfim, é isso aí.
As reuniões do MSX Rio costumam se realizar no SESC Madureira sempre em um final de semana. Quem estiver interessado, informe-se sobre a data da próxima no Sítio MSXRio. E mesmo que você não seja devoto do MSX, vale comparecer quando nada para ver as máquinas em pleno funcionamento. E conhecer um grupo de entusiastas confraternizando de forma sadia e alegre. Todos gente finíssima. Vá, e eu garanto que será bem recebido.
Eu, frequentador esporádico das reuniões MSXRio, neste último final de semana tive o prazer de participar de mais uma.
Encontrei amigos – já fiz muitos por lá, talvez o lugar mais fácil de se fazer amigos que já frequentei – revi as velhas máquinas pioneiras, matei as saudades de meu Expert Gradiente e, sobretudo, renovei um pouco minha fé na natureza humana.
Gente que se sacrifica para manter uma reunião de pessoas unidas por um ideal merece todo o respeito.
Vida longa ao MSX Rio.
B. Piropo
Até o próximo Melhor do Planeta
Fonte: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/05/msx-rio-um-grupo-em-torno-de-um-ideal.html
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