TechTudo inaugura a coluna Geração Gamer, com histórias de fãs de videogames que mostram como os jogos eletrônicos estão se desenvolvendo no Brasil. Os primeiros entrevistados são integrantes da banda The Gameboys, de São Paulo, que falaram sobre o Vale-Cultura de Marta Suplicy, seus jogos prediletos e música.
Banda paulistana Gameboys, que faz música de videogames (Foto: Divulgação)
“Apesar de muitos de nós gostarem de games da Nintendo, o nome Gameboys apareceu durante um jantar numa pizzaria em Campinas. Foi no final de 2007, quando eu fui iluminar o show de amigos da faculdade”, explicou Wilson Esteves, que tem 26 anos e toca teclado. Fã assumido de Mario, ele admite que continua a jogar o primeiro Nintendinho em emuladores no computador, mas jura que sua banda não tem nada a ver com a Big N. “Perguntaram para mim qual seria o melhor nome para uma banda que toca música de games. Game Boys surgiu de cara. Simplesmente foi o nome que pareceu encaixar”, disse o músico.
Os games, a cultura e a ministra
No mês de março deste ano, durante um evento do Vale-Cultura do governo Dilma, a ministra Marta Suplicy disse que não considera “games como cultura” e incluí-los no novo benefício de R$ 50 seria “forçar demais”. As opiniões dos quatro integrantes do Gameboys tiveram pequenas diferenças, mas todos discordaram da ministra, afirmando que os games são, sim, cultura.
“Não tem como você dizer que os videogames não têm aspectos culturais. E cultura é uma palavra muito genérica para eles. Na minha opinião, essa discussão vai além disso, principalmente se game é arte ou não é arte. Eu não tenho isso definido para mim”, diz o baixista Pedro Henrique Mazzilli, de 28 anos.
Jogos do Mario fazem sucesso entre os membros da banda (Foto: Divulgação)
O contrabaxista Pedro Henrique Mazzilli acredita que Marta Suplicy entende que games são cultura, mas acha que a ministra não incluiu os jogos eletrônicos no pacote de benefícios do governo por outros motivos. “Videogame é uma mídia muito nova, que ainda precisa ser maturada, mas é lógico que ela envolve artistas." Pedro completa: “Arte é muito mais algo fechado e não é uma generalização do que é bom. Talvez o videogame esteja em outra prateleira, em uma outra classificação, que não é bem arte. E a ministra provavelmente quer destinar o Vale-Cultura para compra de livros e filmes, cultura que falta a muitos dos brasileiros”, completou o músico.
Wilson Esteves, o tecladista, já tem uma opinião muito diferente de Pedro Henrique. “Quando eu penso em Hideo Kojima e nos jogos Metal Gear, eu vejo que ele pensa videogame como mídia, com um roteiro complexo e bom humor. Para mim, games são cultura sim”, diz o músico. E Ricardo Madureira Marques, o guitarrista da banda, que tem 24 anos, ficou totalmente contra a ministra Marta Suplicy. “Manda ela relaxar e gozar. É óbvio que games são cultura. Só pela experiência musical que temos, games são sim uma cultura. Há um trabalho artístico de muitas pessoas por trás de uma produção de jogo. Desenhistas, designers, programadores e músicos mostram que é uma cultura de verdade”, opinou o músico.
Guitar Hero faz parte de um gênero que perdeu a força, segundo a banda (Foto: Divulgação)
“A nossa geração fica inconformada, e tem que estar, mas as gerações anteriores não tem a vivência que a gente teve com games para entender de forma integral o que são os jogos. A partir da nossa geração, que jogou desde quando nasceu, é que isso vai mudar”, explicou o baixista Pedro Henrique. Para ele, videogames não precisam, necessariamente, estar no Vale-Cultura para que sejam levados à sério, mas parece difícil para as gerações anteriores entenderem como os jogos eletrônicos estão mudando as vidas dos jovens gamers de hoje em dia.
Mesmo acreditando que games são cultura, os Gameboys não deixaram de criticar muitos dos títulos que estão na indústria hoje em dia e sucessos que estão em declínio. “Jogos musicais como Guitar Hero, pelo visto, eram só um fenômeno passageiro. Guitar Hero é muito técnico e basta apertar botões num ritmo. É legal, mas tem um limite. É um tipo de jogo que ficou inflado e só se falava disso há pouco tempo atrás. Eles não conseguiram um frescor nas sequencias, mesmo com a adição de instrumentos”, critica Pedro Henrique. Para os quatro, a ascensão de games indies, de desenvolvedoras pequenas e independentes, pode ajudar a criar novos estilos de jogos e dar uma renovada na indústria internacionalmente.
Fazer música de games no Brasil
Todos os integrantes do Gameboys jogam games desde o berço e, quando eles decidiram estudar música, o amor pelos jogos eletrônicos começou a se mesclar com os estudos. “O jogo Final Fantasy 7 tem a trilha que eu mais gosto, que é do Nobuo Uematsu. A trilha sonora está tão associada ao jogo pra mim que eu lembro de partes do jogo só de ouvir determinadas músicas. E eu também lembro de músicas só de visualizar partes do jogo”, diz Pedro Henrique, sobre um de seus ídolos favoritos.
Game Final Fantasy 7: Trilha-sonora é arte? (Foto: Reprodução/Squaresoft)
O quarteto aponta algumas das muitas dificuldades de se fazer músicas inspiradas em videogames. “Normalmente, músico não é tratado com respeito no Brasil. Músico de videogame, então, parece que está brincando ao invés de trabalhando. Mesmo assim, o Gameboys existe há quase seis anos. Todo mundo na banda tem envolvimento sério com música. A gente faz acontecer mesmo com tantos problemas no mercado”, explica Ricardo. Os jovens não vivem do Gameboys, mas não gostam de encarar o grupo apenas um hobby. Sem shows constantes, ainda assim eles conseguiram se apresentar na Virada Cultural de 2011, em São Paulo, junto com outra banda de games brasileira, o heavy metal do MegaDriver. “A gente quer criar esse nicho profissionalizado, sério, lançar esse nicho especializado”, disse Ricardo Marques, sobre os objetivos da banda.
Boas lembranças
Os integrantes do Gameboys também contaram sobre algumas loucuras nas horas de diversão junto com os amigos. “Eu e um amigo tentamos terminar Donkey Konga jogando no multiplayer com dois tambores, mas só com uma pessoa jogando em cada música, uma maluquice. Nós empilhamos os tambores e chegamos a zerar o game usando os dois controles. Era um jogo de singlemultiplayer”, disse Ricardo, sobre uma brincadeira com games que o marcou junto com os amigos.
“Eu gostava muito do jogo PaRappa the Rapper. Jogava tanto com um amigo que a gente tentou terminar o jogo usando nariz. Ficamos dando narigadas no controle e quase terminamos o game”, disse Pedro Henrique, sobre outra brincadeira que rendeu boas memórias.
Designer de games Hideo Kojima, responsável por Metal Gear (Foto: Georges Seguin/Wikimedia Commons)
Os músicos também gostam de jogos para smartphones e tablets, mas esperam que a indústria dos games se reinvente em certos aspectos. “Acho que, hoje, os desenvolvedores pensam muito em trazer o jogo pra fora da tela, com controles diferentes do comum, e não pensam dentro do jogo, no caminho contrário. Eu queria mais que o jogo puxasse mais os jogadores para dentro. Os jogos sandbox são legais, as pessoas querem muito um jogo pra fazer tudo. Mas, se você joga algumas horas, rapidamente vê os padrões daquele game de mundo aberto tipo GTA ou Far Cry e tudo fica mecânico. Eu acho que é difícil melhorar os games por dentro, mas acho que esse aspecto ainda pode melhorar muito”, opinou Pedro.
Até o próximo Melhor do Planeta
Fonte: http://www.techtudo.com.br/jogos/noticia/2013/04/entrevista-com-gameboys-banda-brasileira-de-rock-gamer.html
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